Quando só ver já não chega

7 de Abril de 2009 – 19:07

Sempre fui do Sporting. Desde que me lembro que me foi incutido, principalmente pelo meu irmão mais velho e pelo meu primo, o amor por esta instituição centenária e o orgulho de pertencermos a algo diferente. Cresci com o Sporting como presença constante nas conversas, na televisão, no estádio. É uma referência da minha vida, como são família, amigos e carreira. Chorei com derrotas, vibrei com vitórias e vi, pela primeira vez na vida, o Sporting campeão abraçado aos meus irmãos. Mas sempre fui “ausente”, sempre fui um espectador. Sempre acreditei que o Sporting era tão forte, tão intemporal e que era vigiado tão de perto por todos quantos o amavam, que qualquer contributo meu seria desnecessário.

Vi chegar o Projecto, debruado a promessas de um “Sporting Shangri-La”, uma terra de leite e mel digna dum poema de Coleridge. A encabeçar este Projecto glorioso, que ofereceria ao Sporting campeonatos em catadupa, figuras de primeira grandeza no plantel e um orgulho redobrado em ser-se Sportinguista, vinham os melhores gestores da banca, profissionais do sector privado de nomeada e figuras eméritas da nossa praça, com nomes capaz de infundir respeito a todos. Com o Projecto, vi, por “troca” com a construção do novo Estádio e da Academia, duas infraestruturas da sua lavra e de que todos nós, Sportinguistas, nos podemos orgulhar, erros acumulados, deficiente gestão de activos, jogadores contratados a peso de ouro,sem proveito ou sequer retorno para o Sporting e resultados desportivos a oscilarem entre o aceitável e o medíocre, tudo isto sob a égide duma oligarquia que se ia revezando em posições diferentes, cooptando-se sucessivamente e aproveitando as recém formadas estruturas societárias do Clube para, em boa verdade, nele permanecerem, apesar de parecer que saiam.

Vi paulatinamente desaparecer do Sporting a liberdade de expressão, com censuras em AG´s, vi a Direcção do Sporting construir uma torre de marfim que a afastou cada vez mais do coração vivo do Clube que são os seus adeptos, e vi por fim chegar um presidente que se trancou nessa torre e decidiu conduzir, sem nós, os destinos do Clube.

Nunca pensei ouvir um presidente do meu Clube dizer que não me queria como Sócio. Que não queria NINGUÉM como Sócio. Nunca pensei ouvir um presidente do meu Clube fazer tábua rasa de figuras como Moniz Pereira, Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, ao dizer que não lhe interessam as modalidades e que o ecletismo, que foi pedra de toque dum Sporting com mais de 100 anos, só se justifica na medida em que gere dinheiro. Nunca pensei ver o património do Clube vendido ao desbarato e propor-se que o Sporting Clube de Portugal não fosse accionista maioritário na sua própria SAD. E nunca pensei ver uma Direcção tentar mudar os estatutos por forma a declaradamente tirar poder de voto aos Sócios.

Nunca pensei ver o dia em que o Sporting como existe desaparecer fosse sequer uma possibilidade.

Por estar a ver muita coisa que nunca pensei ver, decidi deixar de ser um espectador, e, numa pequena medida, ir falando do que ia descobrindo, ir dando voz à minha indignação. Nesta caminhada, descobri o Leão de Verdade. Tomei conhecimento deste movimento quase na sua génese. Acompanhei-o enquanto pessoas que por ele acordavam mais cedo e se deitavam mais tarde eram criticadas em jornais por elementos da Direcção do Clube. Vi alguém dentro do Clube dar informação sobre eles aos jornais numa tentativa de os descredibilizar. Vi Sportinguistas, amigos, com custos pessoais e financeiros, recolherem assinaturas à porta do SEU Estádio, e vi-os ameaçados por isso. E aí pensei: “Pode mesmo haver tanto fumo sem fogo?”

E vi que não. Com o Leão de Verdade tenho descoberto, como no livro de Carroll, quão fundo vai o buraco, e as manobras que quem dirige hoje o nosso Clube executa. Manobras de fito incerto, mas com lesado certo: o Sporting Clube de Portugal.

A corroborar o retrato do Clube que fui desvelando, a realidade. A apatia e atavismo com que a Direcção encara o futebol, a degradação do prestígio europeu do Clube, as querelas de balneário, o sentimento geral de desnorte do meu Clube.

Porque ver já não me chega, aceitei o gracioso convite que o LdV me dirigiu para juntar a minha voz à luta, para ser mais um que quer, com o seu trabalho, ajudar o Clube que ama, e sensibilizar e informar todos os Sportinguistas sobre o que nele se passa, para que, todos juntos, possamos elevar novamente o SCP ao seu justo lugar. Com honestidade. Com transparência. Com verdade. Como deve ser o Sporting.

Aceitei, com humildade, mas também orgulho, colaborar com o Leão de Verdade. A todos os meus companheiros deste movimento, agradeço desde já a força inquebrantável que têm mostrado na defesa intransigente dos interesses do Sporting Clube de Portugal, sempre com exemplar respeito pelas regras legais e estatutárias que o regem e sempre sem se desviarem da correcção, lealdade e honestidade que devem pautar qualquer Sportinguista.

Orgulho-me de me juntar a este movimento feito de pessoas esclarecidas, sem pretensões e sem segundas intenções que não a de ajudar o Clube neste seu momento de dificuldade histórica. Orgulho-me de juntar esforços a pessoas que considero de capital importância numa finalidade de participação esclarecida, verdadeira e pertinente na vida do Sporting Clube de Portugal.

Um a Um nos fazemos muitos, e não deixaremos de levar a nossa luta pelo bem do Sporting à porta de quem lhe quer mal. Nem que essa porta seja a do Edifício do Visconde.

3 Comentários

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  1. 1

    JL,

    Que sejas muito bem vindo!

    Saudações Leoninas.

    Comentário por Luis de Magalhães Pereira a 8 de Abril de 2009 @ 2:30

  2. 2

    Presumo que sejas o mesmo da caixa de comentários da Centúria.

    Não me cabe dar as boas-vindas, pois não pertenço ao Movimento, mas a clarividência dos teus textos faz-me acreditar que és uma excelente “contratação” do LdV.

    Sem tréguas!!!

    Comentário por gatto com asma a 10 de Abril de 2009 @ 14:31

  3. 3

    Caro Gatto,

    Confirmo ser o mesmo autor dos comentários na Centúria.

    Obrigado pela força e pelo elogio. Cá continuaremos para, como dizes, sem tréguas, lutar pelo Sporting, contra quem lhe quiser mal.

    Saudações Leoninas

    Comentário por JL a 11 de Abril de 2009 @ 6:07


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