Uma questão de credibilidade

13 de Março de 2009 – 10:59

Na edição de hoje do jornal “O Jogo”, o presidente do Conselho Directivo brinda-nos com a sua visão sobre o processo eleitoral em curso no Sporting:

«(…) não acredito que em mês e meio se possa apresentar um projecto credível para quatro anos, sem conhecer a verdadeira realidade do clube.»

É uma afirmação que revela em toda a sua extensão o sentido de transparência e pluralismo democrático do seu autor.

Há cerca de um ano que o Movimento Leão de Verdade vem abordando os órgãos sociais no sentido de «conhecer a verdadeira realidade» do Sporting.

Pedimos para «conhecer a verdadeira realidade» do negócio de venda dos terrenos do antigo estádio. Disseram-nos que os termos do negócio eram assunto confidencial.

Pedimos para «conhecer a verdadeira realidade» das contas consolidadas do Grupo Sporting e dos termos do project finance vigente. Responderam-nos que o pedido extravasava largamente «o âmbito do direito à informação previsto no Código das Sociedades Comerciais (sic)».

Pedimos para «conhecer a verdadeira realidade» subjacente ao projecto de reestruturação financeira que viria a ser chumbado em 28.05.2008. Os vários milhares de páginas de documentos foram disponibilizados ao final da tarde da véspera da Assembleia Geral, na sede do Clube e apenas para consulta.

Sem ilusões quanto à disponibilidade dos órgãos sociais para darem a conhecer a «verdadeira realidade» do Clube, empenhámo-nos na realização de uma Assembleia Geral Extraordinária que, com carácter vinculativo, a isso os obrigasse. Em todas as sedes essa pretensão foi descredibilizada pelos órgãos sociais e em particular pelo próprio presidente do Conselho Directivo.

E muito recentemente, como é do conhecimento público, quando um eventual candidato às eleições solicitou um conjunto de esclarecimentos sobre a «verdadeira realidade» económico-financeira do Clube, recebeu como resposta que o pedido extravasava «o direito previsto nos estatutos», que as informações solicitadas eram «confidenciais» e que «99 por cento» delas não podiam ser fornecidas.

Em suma: depois de um ano em que abundaram as tentativas de conhecer, de forma objectiva e imparcial, «a verdadeira realidade» do Sporting, e em que os órgãos sociais não se pouparam a esforços para impedir que tal acontecesse, o presidente do Conselho Directivo protagoniza, a menos de três meses de eleições, um verdadeiro final apoteótico, afirmando não acreditar que quem não conheça a «verdadeira realidade do Clube» possa estar em condições de apresentar um programa eleitoral credível.

Suponho que esta posição de princípio se resolve com a conclusão de que só alguém com acesso irrestrito à «verdadeira realidade» - o que, atenta a prática dos órgãos sociais, significa alguém que deles faça parte - pode apresentar projectos credíveis e ser digno de receber o facho do poder. Uma verdadeira ode à alternância democrática.

Pois bem, e para que fique claro: mesmo com o pouco conhecimento que lhe consentem sobre a «verdadeira realidade» do Clube, mesmo que os fragmentos de informação de que dispõe sejam pouco mais que sombras na caverna platónica que é o Sporting, o Movimento Leão de Verdade continuará apostado em mobilizar uma solução eleitoral que gere a mudança efectiva, de nomes e ideias, de que o Clube desesperadamente precisa. Porque se a quem não conhece a «verdadeira realidade» faltam condições para apresentar um projecto credível, a quem sonega a «verdadeira realidade», e depois desqualifica quem não a conhece, falta a ética democrática, falta o espírito associativo - falta a credibilidade em si mesma.

3 Comentários

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  1. 1

    Incrível a lata do Soares Franco. Eu bem me lembro dele na Ag do congresso a saltar para o microfone quando se falou de auditoria, bem me lembro do que ele disse e agora vem com esta. É um traiçoeiro, um sem palavra, não tem moral nem dignidade para ser presidente do SCP. E nem tem vergonha mesmo quando o Sporting Europeu que andou a prometer leva uma dúzia.

    RUA com ele e os da sua laia e já vão tarde……

    Comentário por Ricardo a 13 de Março de 2009 @ 14:41

  2. 2

    Meus caros:

    Estão cobertos de carradas de razão. Esta declaração é a todo o título absolutamente escandalosa.

    Há um velho ditado mafioso que diz: “Não expliques por malícia o que podes explicar por estupidez”.

    Eu creio que ele nem pensa nas coisas que diz, é mesmo falta de lucidez total.

    O pior é que ele tem razão. O desconhecimento da realidade do Clube, mas acima de tudo, a suspeita de que o seu estado é calamitoso, é o que inibe o surgimento de alternativas.

    E assim continuaremos curtos de esperança…

    Comentário por João Pedro Silva a 13 de Março de 2009 @ 23:31

  3. 3

    Meus caros,
    Este post deveria sensibilizar todos os sportinguistas para a necessidade de desmontar esta monstruosa encenação, ainda por cima animada por uma pérfida campanha de bastidores, na qual do Dr. FSF é o 1º actor de um vasto elenco de personagens duvidosas.
    No domínio intelectual, a desonestidade tem limites bem marcados, e quando se ultrapassam esses limites entra-se no reino da obscenidade intelectual. É neste reino que se movem aqueles que, com cinismo, ou talvez sem consciência, não sabem respeitar nada, nem ninguém… Este é o espelho dos actuais orgãos sociais do Sporting, com o Dr. FSF à cabeça, cuja conduta se pauta por um “informalismo submarino” que tem vindo a subverter as estruturas fundamentais do nosso Clube. No entanto, continuo a acreditar que, perante comportamentos desta índole, a massa associativa do Sporting não se irá conformar em silêncio e saberá, na sede própria, dar a devida resposta a quem ostenta tamanho desrespeito pelos princípios que sempre fizeram do Sporting um clube diferente e até pelos princípios base da democracia…

    Saudações leoninas!

    Comentário por RPL a 16 de Março de 2009 @ 15:35


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